quinta-feira, 24 de maio de 2012


Ah, o amor! Esse sentimento tão inspirador para milhares de poemas, músicas e livros... Será que ele nos ajuda no caminho do encontro de nosso ver­dadeiro eu? Por muito tempo, acreditava-se que para que um yogi transcendesse e trilhasse um ca­minho de autodescoberta e crescimento espiritual, ele precisaria ser um sannyasi, ou seja, alguém que se desapega do mundo material e vive em celibato. Mas não é o único caminho. Pedro Pessoa, profes­sor de Yoga em Florianópolis, SC, explica: “Ainda existe essa visão ‘romântica’ de que um yogi deve ser um renunciante, um sannyasi, que se retira do mundo, abrindo mão da relação familiar em prol do seu de­senvolvimento espiritual. Mas o meu Guruji, B. K. S. Iyengar, no livro A árvore do Yoga, relata que antiga­mente, na Índia, muitos yogis eram homens de família e alcançaram a plenitude do Yoga enquanto viviam em meio às suas atividades familiares. Ele mesmo é um exemplo vivo disso!” A professora Renata Ventura, de São Paulo, SP, lembra que muitas linha­gens na Índia mostram o caminho de li­bertação passando pela fase de brahma­chari (contenção), grihastha (homem de família) e sannyasi (renunciado). Ela diz: “Um brahmachari está em uma fase de aprendizagem, de conter suas energias para apreender o mundo ao seu redor; um grihastha está no momento de desenvolver suas ha­bilidades pessoais (dharma) para gerar sua família e dar sua contribuição à sociedade, e era somente por volta dos 60 anos que os homens deixavam seus lares para serem renunciantes em busca da verdade suprema, da liberdade”. Porém, assim como Pedro, Renata lembra que seu mestre – B. K. S. Iyengar – não é um sannyasi, assim como também não o era o mestre de seu marido Mário Reinert, professor de Ashtanga Yoga, o faleci­do Pattabhi Jois.
O amor pode ser o portal por onde alcança­mos o nosso verdadeiro Ser, a nossa real essência. A líder espiritual Amma disse em uma conferência em Jaipur, 2008: “Não há nada mais intenso que a for­ça e a beleza de dois corações que se amam. O amor tem o frescor da lua cheia e o brilho ofuscante do sol. Homens e mulheres devem estar dispostos a convidar esse amor a entrar. Somente o amor pode trazer uma mudança perene nas atitudes e, consequentemente, na realidade de toda a sociedade”.
Mas, para quem acha que “um amor e uma cabana” bastam, Pedro e Renata mostram que não é bem assim. Pedro, que é casado há mais de uma década com a também professora Ca­mila de Lucca, enfatiza que o amor é um trabalho que exige abhyasa (disci­plina) e vairaghya (desapego), exigin­do esforço de ambos. Diz ele: “É uma tentativa de unir duas naturezas dife­rentes. Oferece, porém, em sua imensa generosidade, um caminho em que os enamorados po­dem encontrar a própria essência: atman (a sua alma). É a partir dela que vem essa força extraordinária que muitos anseiam, chamada amor”. Renata reforça: “De­vemos nos esforçar com disciplina (tapas) para superar as desigualdades e observar um constante autoestudo (svadhyaya) diante de nosso comportamento com o par­ceiro”.  Numa passagem da Brihadaranyaka Upanishad (um dos mais antigos textos filosóficos da cultura hin­du), o sábio Yajñavalkya ensina à sua esposa: "Em ver­dade, não é pelo amor ao esposo, minha querida, que o esposo é amado: ele é amado pelo amor ao Ser que, em sua natureza real, é uno com o Ser Ilimitado. Em verdade, não é pelo amor à esposa, minha querida, que a esposa é amada: ela é ama­da pelo amor ao Ser”. ∗A explicação para a upanishad acima é feita por Pedro Kupfer, professor de Yoga em Mariscal, SC: “Isso significa que, quando amamos uma pes­soa, não estamos amando-a pelo que ela é, mas pelo que ela evoca em nós: a pessoa simples, pacífica e plena que essencial­mente somos”. Nenhum relacionamento é um mar de rosas o tempo todo. Por isso mesmo, a prática do Yoga, não só dentro como fora do tapetinho, é mais que ne­cessária para ajudar a driblar as dificulda­des diárias. Segundo Pedro e Camila, “O Yoga nos ensina a ver, nos ensina a olhar para o outro com novos olhos: com os olhos de atman (a alma)”. A aplicação dos ensinamentos da filosofia, tais como os yamas e niyamas, também não podem dei­xar de estar presentes no relacionamento a dois: “Acreditamos que para viver um relacionamento yóguico é necessário que as condutas de yamas e nyamas estejam presentes na vida cotidiana do casal. Por exemplo, a verdade – satya – é fun­damental! Um relacionamento sátvico somente pode ser baseado na confiança. Confiança esta que será construída na honestidade e verdade de seus atos e pa­lavras. Mesmo aquela mentirinha boba pode quebrar este elo sagrado de con­fiança mútua”, explicam Renata e Má­rio. Até mesmo um dos grandes vilões dos relacionamentos estáveis – a rotina – pode ser driblado quando aplicamos o que o Yoga nos ensina: “O contenta­mento – santosha – na vida diária virá à medida que o relacionamento esteja maduro e que ambos estejam seguros de seu dharma. Apreciar cada momento simples do dia juntos é um sinal de paz e contentamento a dois”, diz Renata. Tan­to Pedro e Camila quanto Renata e Má­rio são uníssonos em dizer que o Yoga é fundamental na manutenção do relacio­namento. Pedro relata: “À medida que praticamos Yoga, nos tornamos mais abertos, mais flexíveis, compreensivos, tolerantes, receptivos e mais alegres uns com os outros. E naturalmente reconhe­ceremos que o caminho do Yoga é o ca­minho que nos leva ao amor”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário