Ah, o amor! Esse sentimento tão inspirador para milhares de poemas, músicas e livros... Será que ele nos ajuda no caminho do encontro de nosso verdadeiro eu? Por muito tempo, acreditava-se que para que um yogi transcendesse e trilhasse um caminho de autodescoberta e crescimento espiritual, ele precisaria ser um sannyasi, ou seja, alguém que se desapega do mundo material e vive em celibato. Mas não é o único caminho. Pedro Pessoa, professor de Yoga em Florianópolis, SC, explica: “Ainda existe essa visão ‘romântica’ de que um yogi deve ser um renunciante, um sannyasi, que se retira do mundo, abrindo mão da relação familiar em prol do seu desenvolvimento espiritual. Mas o meu Guruji, B. K. S. Iyengar, no livro A árvore do Yoga, relata que antigamente, na Índia, muitos yogis eram homens de família e alcançaram a plenitude do Yoga enquanto viviam em meio às suas atividades familiares. Ele mesmo é um exemplo vivo disso!” A professora Renata Ventura, de São Paulo, SP, lembra que muitas linhagens na Índia mostram o caminho de libertação passando pela fase de brahmachari (contenção), grihastha (homem de família) e sannyasi (renunciado). Ela diz: “Um brahmachari está em uma fase de aprendizagem, de conter suas energias para apreender o mundo ao seu redor; um grihastha está no momento de desenvolver suas habilidades pessoais (dharma) para gerar sua família e dar sua contribuição à sociedade, e era somente por volta dos 60 anos que os homens deixavam seus lares para serem renunciantes em busca da verdade suprema, da liberdade”. Porém, assim como Pedro, Renata lembra que seu mestre – B. K. S. Iyengar – não é um sannyasi, assim como também não o era o mestre de seu marido Mário Reinert, professor de Ashtanga Yoga, o falecido Pattabhi Jois.
O amor pode ser o portal por onde alcançamos o nosso verdadeiro Ser, a nossa real essência. A líder espiritual Amma disse em uma conferência em Jaipur, 2008: “Não há nada mais intenso que a força e a beleza de dois corações que se amam. O amor tem o frescor da lua cheia e o brilho ofuscante do sol. Homens e mulheres devem estar dispostos a convidar esse amor a entrar. Somente o amor pode trazer uma mudança perene nas atitudes e, consequentemente, na realidade de toda a sociedade”.
Mas, para quem acha que “um amor e uma cabana” bastam, Pedro e Renata mostram que não é bem assim. Pedro, que é casado há mais de uma década com a também professora Camila de Lucca, enfatiza que o amor é um trabalho que exige abhyasa (disciplina) e vairaghya (desapego), exigindo esforço de ambos. Diz ele: “É uma tentativa de unir duas naturezas diferentes. Oferece, porém, em sua imensa generosidade, um caminho em que os enamorados podem encontrar a própria essência: atman (a sua alma). É a partir dela que vem essa força extraordinária que muitos anseiam, chamada amor”. Renata reforça: “Devemos nos esforçar com disciplina (tapas) para superar as desigualdades e observar um constante autoestudo (svadhyaya) diante de nosso comportamento com o parceiro”. Numa passagem da Brihadaranyaka Upanishad (um dos mais antigos textos filosóficos da cultura hindu), o sábio Yajñavalkya ensina à sua esposa: "Em verdade, não é pelo amor ao esposo, minha querida, que o esposo é amado: ele é amado pelo amor ao Ser que, em sua natureza real, é uno com o Ser Ilimitado. Em verdade, não é pelo amor à esposa, minha querida, que a esposa é amada: ela é amada pelo amor ao Ser”. ∗A explicação para a upanishad acima é feita por Pedro Kupfer, professor de Yoga em Mariscal, SC: “Isso significa que, quando amamos uma pessoa, não estamos amando-a pelo que ela é, mas pelo que ela evoca em nós: a pessoa simples, pacífica e plena que essencialmente somos”. Nenhum relacionamento é um mar de rosas o tempo todo. Por isso mesmo, a prática do Yoga, não só dentro como fora do tapetinho, é mais que necessária para ajudar a driblar as dificuldades diárias. Segundo Pedro e Camila, “O Yoga nos ensina a ver, nos ensina a olhar para o outro com novos olhos: com os olhos de atman (a alma)”. A aplicação dos ensinamentos da filosofia, tais como os yamas e niyamas, também não podem deixar de estar presentes no relacionamento a dois: “Acreditamos que para viver um relacionamento yóguico é necessário que as condutas de yamas e nyamas estejam presentes na vida cotidiana do casal. Por exemplo, a verdade – satya – é fundamental! Um relacionamento sátvico somente pode ser baseado na confiança. Confiança esta que será construída na honestidade e verdade de seus atos e palavras. Mesmo aquela mentirinha boba pode quebrar este elo sagrado de confiança mútua”, explicam Renata e Mário. Até mesmo um dos grandes vilões dos relacionamentos estáveis – a rotina – pode ser driblado quando aplicamos o que o Yoga nos ensina: “O contentamento – santosha – na vida diária virá à medida que o relacionamento esteja maduro e que ambos estejam seguros de seu dharma. Apreciar cada momento simples do dia juntos é um sinal de paz e contentamento a dois”, diz Renata. Tanto Pedro e Camila quanto Renata e Mário são uníssonos em dizer que o Yoga é fundamental na manutenção do relacionamento. Pedro relata: “À medida que praticamos Yoga, nos tornamos mais abertos, mais flexíveis, compreensivos, tolerantes, receptivos e mais alegres uns com os outros. E naturalmente reconheceremos que o caminho do Yoga é o caminho que nos leva ao amor”.
Retirado do site: http://yogajournal.terra.com.br/show_yoga.php?id=1335
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